A
Teoria dos Protótipos, segundo Rosch (1978), diz que o protótipo seria o
exemplar mais adequado, o melhor representante ou caso central de uma
categoria. O protótipo atuaria como ponto de referência cognitiva para os
processos de classificação dos elementos de nossa experiência. Assim, o
primeiro pensamento sobre um elemento de uma categoria, seria considerado o
protótipo, e os outros periféricos. Dessa forma, para chegarmos a traduzir um
significado inteligível para a definição do que é texto, podemos nos ater a um
viés mais prototípico ou, a um viés mais periférico.
Estabelecendo
contrato com o primeiro e mais comum dos vieses citados, podemos dizer que a
definição corriqueira para texto seria “conjunto de palavras e frases
articuladas, escritas sobre qualquer suporte” (CAMARGO e BELLOTTO, 1996:74) ou
“Obra escrita considerada na sua redação original e autêntica (por oposição a
sumário, tradução, notas, comentários, etc.)” (Aurélio: 2009), entre outras.
Estas definições são possíveis porque o elemento mais comum da categoria texto é a escrita de frases formadas por palavras. O falante que se atem
somente a estas esferas definitivas está, de uma forma omissa, excluindo a
possibilidade de que um texto pode, também, ser uma comunicação não lexicográfica,
onde a mensagem é transmitida através de imagens, gestos etc.
Ao
considerar a ampla dimensão definitiva do que é um texto é que chegamos ao
segundo viés, o periférico:
“O texto em sentido lato designa toda e
qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (...) isto é,
qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos (...) Em
sentido estrito, o texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que
forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois de
uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se
caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto –
os critérios ou padrões de textualidade, entre os quais merecem destaque
especial: a coesão e a coerência” (FÁVERO & KOCH, 1994: 25).
Ou,
ainda, podemos dizer segundo KOCH & TRAVAGLIA (1989: 8 e 9 apud TRAVAGLIA,
2000: 67) que texto é:
“uma unidade linguística concreta
(perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua
(falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa
específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão”.
O
viés periférico da definição de texto oferece mais elementos do que o viés
prototípico para a classificação da categoria: texto. Enquanto o primeiro viés apresenta um elemento central desta
categoria: a escrita, o viés
periférico ousa em ir além do corriqueiro significado e se instala em um sítio
cognitivo cujo contato demanda esforço reflexivo do falante. Assim, o falante
precisa refletir sobre as outras possibilidades elementares que potencializam a
constituição da categoria: texto. Podemos perceber a presença de vários outros
elementos, além da escrita, como linguagem falada, processos sociais,
configurações ideológicas, entre outros, na definição de Marcuschi (1983: 22):
“O
texto deve ser visto como uma sequência de atos de linguagem (escritos e
falados) e não uma sequência de frases de algum modo coesas. Com isto, entram,
na análise do texto, tanto as condições gerais dos indivíduos como os conceitos
institucionais de produção e recepção, uma vez que estes são responsáveis pelos
processos de formação de sentidos comprometidos com processos sociais e
configurações ideológicas”.
A escolha de
qual viés utilizar para se revestir de uma tradução compreensível do que seria
um texto se dá de acordo com a finalidade discursiva do falante. Não se deve
esquecer de que todo texto e, seus respectivos tipos, é um discurso potencialmente carregado de significado,
coesivo ou não, é sempre comunicacional se apropriando da coerência.
Prototípico ou periférico, o objetivo é que a mensagem seja percebida e
compreendida na relação comunicacional.
(Texto de Natália Rocha Figueiredo)
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