sexta-feira, 19 de julho de 2013

Concepção de Texto à luz da Teoria dos Protótipos


       
          A Teoria dos Protótipos, segundo Rosch (1978), diz que o protótipo seria o exemplar mais adequado, o melhor representante ou caso central de uma categoria.  O protótipo atuaria como ponto de referência cognitiva para os processos de classificação dos elementos de nossa experiência. Assim, o primeiro pensamento sobre um elemento de uma categoria, seria considerado o protótipo, e os outros periféricos. Dessa forma, para chegarmos a traduzir um significado inteligível para a definição do que é texto, podemos nos ater a um viés mais prototípico ou, a um viés mais periférico.
Estabelecendo contrato com o primeiro e mais comum dos vieses citados, podemos dizer que a definição corriqueira para texto seria “conjunto de palavras e frases articuladas, escritas sobre qualquer suporte” (CAMARGO e BELLOTTO, 1996:74) ou “Obra escrita considerada na sua redação original e autêntica (por oposição a sumário, tradução, notas, comentários, etc.)” (Aurélio: 2009), entre outras. Estas definições são possíveis porque o elemento mais comum da categoria texto é a escrita de frases formadas por palavras. O falante que se atem somente a estas esferas definitivas está, de uma forma omissa, excluindo a possibilidade de que um texto pode, também, ser uma comunicação não lexicográfica, onde a mensagem é transmitida através de imagens, gestos etc.
Ao considerar a ampla dimensão definitiva do que é um texto é que chegamos ao segundo viés, o periférico:
 “O texto em sentido lato designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (...) isto é, qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos (...) Em sentido estrito, o texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois de uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto – os critérios ou padrões de textualidade, entre os quais merecem destaque especial: a coesão e a coerência” (FÁVERO & KOCH, 1994: 25). 
Ou, ainda, podemos dizer segundo KOCH & TRAVAGLIA (1989: 8 e 9 apud TRAVAGLIA, 2000: 67) que texto é:
 “uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão”.
O viés periférico da definição de texto oferece mais elementos do que o viés prototípico para a classificação da categoria: texto. Enquanto o primeiro viés apresenta um elemento central desta categoria: a escrita, o viés periférico ousa em ir além do corriqueiro significado e se instala em um sítio cognitivo cujo contato demanda esforço reflexivo do falante. Assim, o falante precisa refletir sobre as outras possibilidades elementares que potencializam a constituição da categoria: texto. Podemos perceber a presença de vários outros elementos, além da escrita, como linguagem falada, processos sociais, configurações ideológicas, entre outros, na definição de Marcuschi (1983: 22):
“O texto deve ser visto como uma sequência de atos de linguagem (escritos e falados) e não uma sequência de frases de algum modo coesas. Com isto, entram, na análise do texto, tanto as condições gerais dos indivíduos como os conceitos institucionais de produção e recepção, uma vez que estes são responsáveis pelos processos de formação de sentidos comprometidos com processos sociais e configurações ideológicas”.
                A escolha de qual viés utilizar para se revestir de uma tradução compreensível do que seria um texto se dá de acordo com a finalidade discursiva do falante. Não se deve esquecer de que todo texto e, seus respectivos tipos, é um discurso potencialmente carregado de significado, coesivo ou não, é sempre comunicacional se apropriando da coerência. Prototípico ou periférico, o objetivo é que a mensagem seja percebida e compreendida na relação comunicacional.
         



(Texto de Natália Rocha Figueiredo)

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